EDITORIAL. 06

02-04-2016 00:39

A importância de se chamar GEORGE

Amanhã estaremos em Sampaio, Sesimbra, uma das capitais agostinianas, no Auditório do Centro Cultural Raio de Luz, no âmbito do GEAS – Gabinete de Estudos Agostinho da Silva, para evocar Agostinho na véspera de mais um aniversário – o 22.º – da sua partida. Será o momento para se apresentar ao público presente a nova página GEORGE, cuja publicação se iniciou na edição do mês passado do jornal Raio de Luz, a quem Agostinho concedeu a sua derradeira entrevista de imprensa, que será lançada em livro, a 2 de Julho, naquele auditório, com apresentação de Fernando Dacosta. Com prefácio de António Cândido Franco e posfácio de João Ferreira, decano da Filosofia Portuguesa e nome histórico do universo agostiniano, que em 19 de Dezembro último honrou a criação do GEAS com a sua presença e a sua palavra, sábia e fraterna. 
A GEORGE, para nossa surpresa, provocou reacções desencontradas. Se muitos a festejaram e elogiaram, a alguns, porém, o seu surgimento parece ter causado engulhos. É bom lembrar que Agostinho da Silva, o seu legado, o seu nome, o seu exemplo não são propriedade de ninguém. É bom lembrar que o espírito de proprietário é, como um desmentido, a maior traição que pode ser feita ao seu ideário. Seria bom que a sua posteridade não viesse a ficar ensombrada pela menoridade mesquinha das vicissitudes que, por vezes, incidentam os processos institucionais. 
De Agostinho, seu mestre, escreveu António Telmo em “Agostinho da Silva e os Titãs”:

«Ele tinha um nome por assim dizer secreto. Chamava-se também George, mas este nome só era usado entre os mais íntimos. Era o nome próprio, o nome inalienável.

George (do grego Gêourgos) é quem trabalha a Terra, é o grande agricultor do mundo humano. Todavia, não nos deixemos enganar. Agostinho da Silva só valorizava uma espécie de trabalho, aquele que é um paradoxo de si mesmo, em que trabalhar tem por fim libertar do trabalho superando-o infinitamente pela criatividade. É o sentido do que diz em entrevista no Jornal de Notícias (17-11-87): “Foram Portugal e Espanha – sobretudo Portugal – a darem ao mundo o conhecimento de si mesmo. Agora lhes conviria e lhes caberia o papel de dar o conhecimento daquilo que é fundamental nesse Mundo. Toda a gente pode ter aquilo a que chamo de “vida poética”, no sentido de criadora, em qualquer dos domínios: artes, ciência, filosofia, mística. Isso é possível e deveria fazer-se”»

Na GEORGE, somos todos, pois, íntimos do filósofo. Os que nela colaboram, os que a recebem. Quantos (re)descobrem Agostinho naquela intimidade autêntica que só a leitura meditada consente. O mais é espuma.