INÉDITOS. 81

28-01-2019 11:29

Código de honra do cidadão livre

 

1.º Não me esquecer nunca de mim em qualquer situação, de modo a ser sempre responsável dos meus pensamentos, palavras e actos.

2.º Não se trata do que se entende habitualmente por responsabilidade moral. Bons ou maus pensamentos, por exemplo, é em mim que eles nascem e progridem, evoluem e morrem. Aqui a presença a mim mesmo pode ser, e é, a de alguém que assiste aos seus próprios pensamentos como se fossem de outro, mas eu sou ainda responsável por esse outro que deixei instalar em mim. Responsável, quer dizer, que respondo por ele e não que me desculpo com ele. Se, ao pensar, falar e fazer me esqueço de mim, sou como se não fosse, sigo como se não permanecesse no movimento que os transporta. E como os outros são vários a instalar-se, vivo sem identidade, como um autómato. Agredi alguém? Não tive culpa, não fui eu. Vejo depois o de que deveria ter consciência no momento. E, tendo consciência, assistir impávido ao movimento do monstro que agride, reconhecer que ele é em mim realmente existente. Dir-se-á que assim se aceita o mal. “Não resistir ao mal” disse Jesus. A verdade é que este é o único caminho de libertação do mal. Se reajo contra o “monstro” que quer agredir, ele cresce e aumenta de força. Se não tomo consciência dele em mim, apodera-se inteiramente do meu ser.

O que acontece se não resisto ao mal, estando eu presente a mim mesmo? “Mais vale experimentá-lo que julgá-lo”. Mas julgando é de supor que a energia, que pela minha entrega ou pela minha resistência, animava inteiramente o monstro, lhe falta e a vontade ou força que o animava pode ser captada para fins mais nobres.     

 

António Telmo