VOZ PASSIVA. 14

17-02-2014 10:59

É mais um contributo télmico para o próximo número duplo da revista de cultura libertária A IDEIA, este surpreendente ensaio de Paulo Jorge Brito e Abreu que agora antecipamos ao leitor. Recordamos, a propósito, que aquele número, já o 73/74, da publicação actualmente dirigida por António Cândido Franco, sairá a lume no segundo semestre deste ano, tendo já uma sessão de apresentação aprazada para a sexta TARDE TÉLMICA de 2014, a 22 de Novembro, na Biblioteca Municipal de Sesimbra. Desta feita, a revista vem acompanhada de um suplemento inteiramente dedicado à memória e ao legado do nosso patrono, onde se publicarão inéditos deste e as cartas que lhe escreveram José Marinho, Dalila Pereira da Costa e Fiama Hasse Pais Brandão, num trabalho coordenado pelo projecto António Telmo. Vida e Obra, e que conta com a colaboração de António Carlos Carvalho, Jorge Croce Rivera, Pedro Martins e Rui Lopo.    

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António Telmo: os Números, os Nomes e os Numes

Paulo Jorge Brito e Abreu

Dividindo bem o Logos – distribuindo-o bem pelas tuas entranhas.

Empédocles

 

I

 

Seguindo e segundo santelmo António Telmo, eis aqui, e eis agora, as «Congeminações de um Neopitagórico». Pois cada nome é um número, e cada número é um Nume. Abeiramo-nos, em sacral, sagrado esquisso, da Simbologia, da Súmula, da Suma que nos dá o velho Pitágoras. António Telmo ou, então, o Tomé Natanael, António Telmo, na Ágora, o áugure pítico. E aqui surge, dessarte, a pergunta: qual o escopo, e a escola, deste nosso «Bateleur»? E em crítica acribia, eis o repórter, a resposta: adentro do culto, e Cultura Portuguesa, adunar os Hebraicos ao Livro de Thoth. Quero eu dizer, e aduzir: enlaçar a Kabbalah com a Letra de Hermes. Filho de Júpiter, e Maia, o deus Hermes, o Mercúrio, o Hermes Trismegisto, o deus que aos homens deu as palavras, as letras, os nomes e os Numes. E é que a serpente mercurial, ela é superna, e superior, ao cifrão comercial. Ela é a música, o Museu, e Templo das Musas. Unindo entanto, e ligando, o Céu com a terra; eis o seu mágico, ou ático, laboratório. Queremos assertar: aqui hermética hermenêutica, o labor, inicial, iniciando com o oratório. Se tudo é uno, portanto, então tudo está em tudo. E a Kabbalah é o saber que importa desvelar. As Letras activas como o Sol e as estrelas. Pois, na Fonte Cabalina, em Cavaleiros do Amor, foi de acordo com as Letras que o mundo foi criado – e qual Arauto, e Autor, António Telmo é por isso o fogo-de-santelmo, «Philosophus per Ignem» para as quinas de Alquimia. E se ele é, dessarte, o Filho da Viúva, ele é, outrossim, o Tomé Natanael. Elaborando, e operando, na Arqueologia do Ser. Tomando a Bíblia, sobretudo, como a prosódia, e pois ofício, o exercício das metáforas – e esse o múnus, o Nume, da Palavra perdida, da hermética irmandade dos Amigos da Luz. Fazendo, como vimos, do Poeta um «Bateleur». Que o acrobata, pelotiqueiro, ou saltimbanco, é a lâmina prima do Tarot de Marselha. O Iniciado ou o Mago, aquele que, com a Língua, aquele que se dedica aos jogos malabares. Que o Mistagogo, e o Poeta, ele é sempre, ele é sempre, um prestidigitador. Aquele que, no jogo, em ludíbrio da mente, aquele que transmuta a verdade em mentira e a mentira em verdade, o cultor, o místico, e mistificador. «Arte Poética», dedicado, formalmente, ao Álvaro Ribeiro, data, portanto, de 1963, e é o «liber» primeiro do nosso Criacionista. Elaborado nas «sephiroth», na árvore das cifras, ou safiras dessarte – e não remembras, ó ledor, a esfera, e o «Sfairos», parmenidiano? Para bem ser aprendida, e desse modo compreendida, urge bem que esta Lira, já escrita em «Shekinah», seja tomada como estética, e poética, Filosofia. Um pouco como o fazia, professando e proferindo, Agostinho Maldonado, nos anos 70. Imitando o que operava, falante e aflante, o feraz Leão Hebreu, o médico e Filósofo Judah Abravanel. Ou em tópicos e tropos camonianos, adorando o Deus menino por cuja potestade os deuses descem à terra, os homens sobem ao Céu. Considerando, por isso mesmo, e siderando, as três mais claras, e preclaras, expressões do Cristismo, em terras de Luso, são o Mosteiro, dessarte, de Santa Maria de Belém, «Os Lusíadas» da Luz e o paládio «São Paulo», do Teixeira de Pascoaes. Bem longe e distante, bem longe, deveras, da feira de vaidades que é o mundo literário Portugalaico. Pois importa, em «Shekinah», importa, aqui, o proferir: se o bétilo, «Omphalos», se o bétilo, na Pítia, clama por Beth, a «Casa de Deus», ou «Beth-El», se tornou, cristiana, em «Beth-Lehem», em Belém, ou na «Casa do Pão». Que inicial da palavra «Barukh» ( bendito seja Ele ), a letra «Beth» é o começo de «Bereshith», ou «no princípio», a primeira palavra do Antigo Testamento. Ou especulando, em estupor, e estupefacto: em demanda, ou na questa, de um sófico centro, o ministério mais alto do magistério Portugal, ele é ser, ele é ser, um construtor de Catedrais. Não já no fundo e fundamento, mas em preste Firmamento. Ou dizendo, e aduzindo, por vocábulos outros: em frutífera «Efrata», o antigo, avito nome da cidade «Betel» foi a «Luza», Luza gente, ou gente Lusa. Sempre aliando, na Casa de Deus, sempre aliando, e ligando, a terra com o Céu. A Maia ao Pater, afinal. De tal modo que assertamos: se a terra é fértil, de facto, e se chove, deveras, ora urge que os Magos já voltem a Belém…

 

II

 

Trataremos, aqui, do génio poético do mundo ocidental: não é dessarte, António Telmo, ciência fácil e fútil. Pois, ao falarmos do Tarot, falaremos da Torah – e proferindo nós o naipe, o «naib», ou «naibbe», professamos, nós ora, o Vidente e o «nabî». Pois consequente à expulsão dos judeus da antiga Espanha, a diáspora sefardita difundiu, e defendeu, o alado «Liber Mundi». E ora basta e ora bonda. Pois «nomina numina» diremos nós ora: foi nado, António Telmo, em Almeida, a 2 de Maio de 1927. E significa, o nome António, «valoroso» ou «valioso». A abrir sua «persona», corresponde, a letra «A», ao «Aleph» dos patriarcas, e significa, esse «Aleph», «o Touro», o signo precisamente do nosso querido Filósofo. E se o chifre do Touro é o crescente lunar, simboliza «Aleph» a Lua em sua prima semana; se Vénus tem seu domicílio nocturno no signo de Touro, a Lua está nele em altar exaltação. E sabe-se, na Simbologia, que o Touro, ou bovino, representa os deuses celestes nas religiões e nos cultos indo-mediterrânicos. O «Tauros» é símbolo da força, e potência criadoras, ele a-presenta, ou re-apresenta, as forças elementares do sexo e do sangue. Pois a partir, na História, do terceiro milénio antes de Cristo, o Touro era o Deus El, sob a forma, formal, da estatueta de bronze; fixada na ponta de um Pau ou duma Vara, essa estátua é similar à do feraz Bezerro de Ouro. Ou pra aplicarmos, aqui, a Cabala fonética: o «Stauros» dos gnósticos era a Cruz, dessarte, e o Tau dos Patriarcas. E queremos ir até ao imo da ciência de Pitágoras, a Kabbalah é florescência da Linguagem dos Pássaros. Que o Poeta é a chave, o Poeta é qual a ave que as portas nos abre. Pois seguindo e segundo o nosso Livro de Thoth, nasceu, António Telmo, sob o Touro, cognato, e segundo decanato. Quer isso indicar, indiciar, assinalar: um homem com um cinto, e com uma chave na mão direita, a dignidade, a nobreza, o poder e o domínio. O domínio e o poder, afinal, duma Arte Real. Já o «A», de que falámos atrás, significa a independência, a curiosidade e a coragem – e o poder, iniciando, de comando e iniciativa. E na primeira consoante do nome de «António», tipifica, o nosso «N», a imaginação, criatividade, e o cunho inspirador. Que o nascido, alfim, no dia 2, é qual harmónica «persona», ele é sensível, emotivo, e não gosta de discórdias. Fortemente afectuoso, ele ama as Musas, a dança, e o ritmo em geral. Pois importante, e marcante, é o facto seguinte: nos primeiros dias de Maio, concelebra, o povo Luso, a festa das Maias, as Maias promotoras das Artes maiêutas. Se dedica, o mês de Maio, a Vulcano ou Apolo, Apolo consorciado com a Maia mulher. Se o maior é o magno e portanto o maioral, bem magíster, e mágica, é nossa majestade. E qual o magistério? Se nascer no quinto mês dá origem, lilial, a uma certa instabilidade, 1927, agora, é como segue: 1+ 9 + 2 + 7 = 19 – e 1 + 9 = 10, e 1 + 0 =1. É o signo da Palingénese, reencarnação, e da Nova Renascença; ela plasma e ela marca a senectude do sénior. O Arcano do Sol iluminando, alumiando, o ministério menestrel. Ratificando, inicial, e rectificando, no «Karma», indicaremos, em Telmo: 2 + 5 = 7: é o número, deveras, das Artes Liberais e dos dias da semana; se isso é sagrado, o secreto e o segredo, é vista aqui, a sabatina, qual a missa e a missão.

Professoral, a missão, dos Poetas maiêutas. E ora sus, avante, e mais ânimo e Alma para a nossa viagem: pois somando, agora, os dígitos, eis a safra, e pois a cifra, do prestidigitador: 2 + 5 + 1 + 9 + 2 + 7 = 26. E 1927 + 7 = 1934; e concluindo, no conto, 1 + 9 + 3 + 4 = 17, o Arcano e Arcaico da Estética Estrela. Quer num, quer noutro caso, para o Filósofo António Telmo, o 8 é dessarte o Número da Vida. Ou cotejando aqui a causa com António de Macedo: foi nado e nascido, o homónimo do Telmo, a 05/ 07/1931: e 1931 + 5 + 7 = 1931 + 12 = 1943: e 1 + 9 + 4 + 3 = 17; e como sói aqui dizer-se, voam juntas e conjuntas, as aves, liliais, da mesma plumagem. Para António Telmo Carvalho Vitorino, o 8 é portanto o número do Destino – e é a Força da Justiça, e a Estrela está com ele em correlação. Simboliza, a lemniscata, a Rosa dos Ventos e a liderança, a Autoridade, do Autor, e o poder material. São as provas, desafios, e a transmutação – e a verve da Kabbalah, e a Caaba como símbolo da pedra e do Cubo. Mas característica, e carácter, da estética Estrela, é o prospectivismo, professor, e o espírito visionário. A imaginação, dos magistas, a «imago» aplicada à poética razão. Pois liberta, ou liberada, dos instintos e pulsões, realiza-se, a Estrela, na estesia da Esperança e no Fogo do Espírito. Por a Poesia, afinal, como a cura, visionada, e o estado de Graça. E sendo vista, a Psicologia, como a fala da Alma e a Fonte Cabalina – e eis a Luz e a Lira, eis a «lectio», lição, do Álvaro Ribeiro.

Por limitações, na lida, de espaço, terminaremos ora. Não sem antes indicarmos, sinaleiro, e assinalarmos: o número pessoal, ou da Personalidade, de António Telmo Carvalho Vitorino, ele é, dessarte, o 22 – ele em nova, numinosa, é chamado Número Mestre. Significativa, apelativa, oblativa coincidência: é o Número do Destino de Sigmund Freud, o frutuoso; do Destino é o Nume, em vida sana, de António Manuel Couto Viana. Para Mário Máximo, outrossim, 19 + 9 + 1956 = 1984, e 1 + 9 + 8 + 4 = 22. São 22 os capítulos do feraz Apocalipse, 22 as letras do alfabeto hebraico – e 22, argonautas, e em conteúdo, os Arcanos Maiores do Livro do Mundo. Eis a cifra, em «Sephiroth», do grande apostolado, do Génio engenhoso, e Construtor de Catedrais. Ele é «Nabî», o Visionário, e labora, liberal, para toda a Humanidade. Por isso aduziremos, mensurando a mente nossa: vamos todos, com Telmo, até ao novo Tabernáculo. Ou vamos ora, simplesmente, aprender a dançar.

 

Queluz, 05/ 02/ 2014

AMOR MAGISTER EST OPTIMUS