ONTEM, NA LIVRARIA TIGRE DE PAPEL, EM LISBOA, COM ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO, NO INÍCIO DE MAIS UM CICLO DEDICADO A AGOSTINHO: O QUE É UMA BIOGRAFIA?

18-06-2017 12:36

Na resposta à pergunta, o autor de O Estranhíssimo Colosso – Uma Biografia de Agostinho da Silva, começou por distinguir biografia de inquérito biográfico. A primeira, sobretudo quando se trata de uma biografia poética, movida pela paixão, nasce de um retrato previamente desenhado pelo biógrafo, e não tem de se subordinar integralmente ao inquérito biográfico, que, a partir de certo momento, por muitos que sejam os documentos e os materiais que possa trazer para a mesa de trabalho, nada irá já acrescentar àquele retrato. E daí que inquéritos biográficos exaustivos não resultem, por vezes, senão num amontoado mais ou menos inexpressivo de factos, sem que por eles se chegue a alcançar o retrato do biografado, que depende da prévia concepção do biógrafo.

Exemplificando as biografias poéticas na nossa literatura com o Napoleão, de Pascoaes, ou com “o pico” de El-Rei Junot, de Raul Brandão, António Cândido Franco lembrou que não raro o biografado é o próprio biógrafo, que nele se projecta, e que a sua biografia de Agostinho da Silva é isso mesmo: a sua, correspondendo a um Agostinho da Silva situado à Esquerda, mas numa esquerda marginal, não alinhada por qualquer partido, e sob o signo permanente do excesso, chegando mesmo a referir-se-lhe como “um homem pantagruélico”, que tudo quer provar e digerir. Por tudo isto, António Cândido Franco confessou ter admitido antecipadamente que a sua obra viesse a gerar polémica, afirmando ainda que outras visões de Agostinho, inclusive como um homem de Direita, possam vir a ser dadas noutras biografias. 

Seguiu-se um animado debate com as quase duas dezenas de pessoas que compunham a assistência, ao fim da tarde de um dia de imenso calor.

O ciclo de palestra ontem inaugurado na Livraria Tigre de Papel sob o signo de Agostinho, numa parceria desta livraria com o GEAS – Gabinete de Estudos Agostinho da Silva, prossegue já amanhã, com uma sessão onde participam Rui Lopo, Eleonor Castilho e Filipe Delfim Santos e que tem por pano de fundo a epistolografia de Agostinho para três nomes da cultura portuguesa: António Telmo, Cecília Correia e Delfim Santos.